IVO 60 blog

Blog para registros dos processos do IVO60 da Cooperativa Paulista de Teatro.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

IVO60 é 10! – Sobre o trabalho dos atores "(...) parece fácil, mas tá difícil..!"

Alguns elementos deste e de outros textos que tenho escrito aqui moram na ficção; na tentativa de que se relacionem esteticamente com a prática dos ensaios; na tentativa de que não sejam meramente informativos.
Para que fique claro, não tenho evitado exageros, supressões e pequenas “correções” da realidade. Então vai:


Pedro propõe aos atores, como aquecimento, a exploração de solos coreográficos; brincadeiras para pesquisar chaves que levem a diferentes estados emocionais, sensoriais ou psicológicos.

No momento da experimentação, medos

do abismo
de entrar e não sair mais
de se tornar um ator sem opinião
de que aquele que assiste não compreenda as regras da peça
de ser pequeno, insignificante, egocêntrico
de ser inoperante
e só


AtorObservador sempre.

 Momento 1 - Ele dá forma a suas observações. Incorporando-as ao solo/cena, serve-se da crítica que cria enquanto dança.
Músculos e pele traduzem a fricção entre o que o ator faz e sua opinião sobre o que faz.

OU

 Momento 2 - Ele tem consciência da opinião que flui no momento da criação, mas a mantem afastada dos olhos de quem o vê. Deixa que ela flua sutilmente pela respiração e pela coluna, mas se entrega sem engenhosidade ao estado proposto.


Daí as perguntas que não têm respostas, mas que aparecem como parte do percurso:

Como montar o quebra cabeça entre estes dois momentos?

Como armar as alavancas que levarão à próxima unidade da cena, tanto do ponto de vista do ator, quanto da encenação?


Marina Corazza

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ivo60 é 10! - Sem título

No último ensaio fiquei um pouco confusa.
Tenho a impressão de que se perdeu o estranhamento (tão procurado) porque a brincadeira entre uma atuação mais “identificada” e os ruídos de encenação diminuiu.

Entendi o caminho que foi buscado. Os atores receberam a orientação de imaginar que estão atuando para a câmera, só que isso transposto para a linguagem teatral gerou uma certa estilização.
Estudar o formato de atuação nas novelas e seriados com certeza enriquece o trabalho, mas buscar o mimetismo disso pode afastar o grupo do objetivo inicial. Parece-me que, com essa orientação, os gestos, falas e intenções dos atores passam a conter a crítica o tempo todo e impedem que existam momentos de “mergulho”.

Com isso o trabalho pode cair na fórmula de criticar uma determinada situação do início ao fim da peça, sem tensão. Platéia e atores já iniciam o espetáculo sabendo que têm as mesmas convicções políticas e assim vão até o final, concordando e rindo de algo que está abaixo deles e do qual, acreditam, já compreender todas as causas e efeitos do assunto em questão.

Pelo que percebo do discurso do grupo, pretende-se que as contradições não sejam somente desenhadas, mas que se materializem no instante da cena e na relação com a platéia.

Outro elemento que contribuiu para essa falta de embate em cena foi a presença constante da música que comenta o tempo todo também na direção da crítica e isso evita que a platéia embarque na ilusão. Como espectadora, sinto que o efeito do distanciamento está diretamente ligado ao quanto me envolvo com a “historinha” criada.

Talvez eu caia aqui no terreno simplista do gosto, mas senti falta dos silêncios que já tinham sido encontrados, das pausas preenchidas que me faziam ter piedade, raiva ou admiração pelas personagens da novela que se passa dentro da peça.


Marina Corazza

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Ivo60 é 10! - A procura pelo “X” da questão ou Pistas para uma peça de teatro

...

Terceira Pista
Nas paredes pretas, cenário de fita crepe desenha apartamentos de novelas.
De dentro do piloto automático que conduz as cenas de acordo com o previsível, irrompem gestos ou frases deslocadas.
Aqui o efeito do distanciamento não acontece na ação do ator, que busca a máxima identificação com seu personagem, mas na encenação que propõe um jogo entre diferentes camadas de linguagem.

Décima primeira Pista
Música ao vivo, entretenimento, humor, trama envolvente, tensão, suspense, reviravoltas.

Sexta Pista
Pesquisa para o lançamento de um novo produto no mercado:
Qual é o público?
Profissão?
Como gosta de passar seu domingo na cidade de São Paulo?
Faixa etária?
Hobbies?
Faixa salarial?
Principal meio de deslocamento ao centro da cidade?
É morador de rua? Do tipo agressivo ou passivo?
Bebe?
Fuma?

Nona Pista
Cortar da própria carne. Expor as contrariedades dos artistas envolvidos não para exaltar as crises individuais, mas como forma de investigar o que não estamos vendo na superfície.

Sétima Pista
Sensação de que não está rolando. Debates sobre a pertinência do material criado até agora. Rodas de conversa e questionamentos sobre as relações entre forma, conteúdo, linguagem, emissão/recepção.

Primeira Pista
Vazar humanidade de dentro da forma.

...


Marina Corazza